Ao abordarmos a gestão educacional, frequentemente negligenciamos um indicador de vital importância: a Taxa de Titulação. Em muitos casos, esse indicador é deixado de lado, embora seja o cerne de nossa missão educacional.
Muitas vezes, iniciativas e metas educacionais são mal direcionadas. Apegamo-nos à captação de alunos e nossos indicadores de marketing param por aí. Essa abordagem é similar à mentalidade transacional do varejo, onde uma venda concluída marca o fim dos esforços. Entretanto, na educação, a matrícula é apenas a primeira parcela de uma jornada de 48 possíveis. Eu gosto de nos comparar ao mercado de recorrência de receita. De assinatura.
Gosto, ainda, de comparar a educação a um lago. Assim como nos transformamos e nos molhamos ao mergulhar completamente, também nos modificamos ao imergir apenas uma mão na água. Somente ela se molha mas o lago nos altera de alguma maneira.
Um único módulo frequentado por um aluno em um semestre já o impacta com a experiência educacional.
Essa perspectiva romântica não ignora o fato de que o processo educacional possui começo, meio e fim. E nossa meta real deve ser a formatura, a titulação, a graduação dos alunos.
A taxa de graduação reflete quantos alunos de uma mesma turma completam seus cursos em 2, 3, 4, 5 ou 6 anos, dependendo da duração do curso. Esse indicador é globalmente reconhecido como uma medida de qualidade acadêmica, fornecendo confiança aos candidatos sobre o retorno do tempo e investimento dedicados a um curso específico.
Uma alta taxa de graduação reflete o esforço dos alunos, o comprometimento dos professores e a eficácia dos sistemas de apoio da instituição. Deveria ser a joia da coroa no marketing educacional brasileiro, demonstrando captação qualificada e processos de ensino-aprendizagem sólidos.
No entanto, nossa atenção de marketing frequentemente se concentra apenas na matrícula.
Ao ponto de grandes documentos e análises setoriais muitas vezes não darem a devida importância a esse indicador crucial.
Refletindo sobre as turmas de tecnólogos de 2015, quantos alunos alcançaram a graduação em 2016 (considerando cursos de cerca de 24 meses)?
E nas turmas de bacharéis e licenciados de 2016, quantos atingiram a graduação em 2020 (para cursos com duração média de 48 meses)?
A análise a seguir (que demandou uma madrugada inteira para ser montada) lança luz sobre essa questão e nos convida a reavaliar nossas prioridades na gestão educacional.
Passando os olhos por esses números, é notável como os dados destacam uma história intrigante sobre o ensino superior. Vamos examinar a consistência dessas informações nos concentrando nas Instituições Privadas de Ensino Superior:
- Em 2012, um total de 187.963 alunos ingressaram em cursos de Graduação Tecnológica no ensino a distância (EAD), representando 11% do total. Rápido avanço para 2020 e esse número saltou para 755.257, o que agora compõe 33% do total de ingressantes. Uma mudança significativa, certo?
- Nos cursos de Graduação Bacharelada e Licenciatura na modalidade EAD, os números em 2012 começaram com 306.143 alunos, o que constituía 18% do total. Em um piscar de olhos até 2020, esse número se expandiu para 1.205.387, atingindo agora uma parcela impressionante de 52% do total de ingressos. Um crescimento realmente notável.
- Em 2013, um quarto da turma de tecnólogos de 2012 conseguiu alcançar a formatura. Porém, no cenário de 2021, esse número caiu para apenas 8% da turma de tecnólogos de 2020. Uma ampliação de matrículas de 3 vezes veio acompanhada de um declínio igualmente drástico na taxa de graduação.
- Para as turmas de Graduação Bacharelada e Licenciatura de 2012, 33% conseguiram se formar até 2015. No entanto, esse número sofreu um declínio nos anos seguintes, com apenas 26% da turma de 2018 atingindo a graduação até 2021. Aqui, um aumento de matrículas em 2,8 vezes foi contrastado com uma redução mais modesta de 21% na taxa de graduação.
E assim, a taxa de titulação declinou 213% nos cursos de tecnólogos e 27% nos cursos de bacharelado ao longo da última década.
Mas uma nova pergunta surge: uma taxa de titulação de 26% em bacharelados e licenciaturas, e 8% em tecnólogos… isso é considerado alto ou baixo?
Em 2020, a taxa de graduação para estudantes de graduação de primeiro ano em tempo integral no Estados Unidos em cursos de 6 anos e da turma de 2014 foi de 64%. Ou seja, em 2020, 64% dos alunos concluíram um diploma de bacharel na mesma instituição em que começaram seis anos antes. A taxa de graduação de seis anos foi de 63% nas instituições públicas, 68% nas instituições privadas sem fins lucrativos e 29% nas instituições privadas com fins lucrativos. Uma média de 47% para instituições privadas naquele país ou 2x a nossa taxa de sucesso por aqui.
Esses números não apenas pintam um retrato das transformações na educação superior, mas também nos convidam a refletir sobre a eficácia de nossas abordagens educacionais e os desafios que precisamos enfrentar para garantir uma formação de qualidade para todos os estudantes.
E jogam luz em um grande problema do nosso sistema para parear com a crise de acesso ao ensino superior que assola as universidades em todo o país.