Eu consumo os dados do censo desde os anos 2000. Tenho as tabelas dos censos do início da última década meticulosamente arquivadas. Naqueles anos, dependíamos de analistas de T.I para transformar os microdados em planilhas e a evolução tecnológica contribuiu muito para o processamento desses bancos de informações. Há cerca de dois anos conseguimos consumir os microdados no Excel e editar essas informações sem demandar terceiros. Você mesmo pode baixar em planilhas esse conhecimento tão precioso e gerar seus cubos locais de uma informação que há pouco estava restrita às consultorias. E para a gente, que “come dados com farinha”, o dia do Censo é um dia de festa. Então, neste ano, resolvemos estruturar um resumo dos conteúdos principais para você ter um guia essencial desse conteúdo. Que ano 2022!
Finalmente, a demanda represada pela pandemia se manifestou em matrículas! Somos 9.5 milhões de universitários. Um recorde histórico.
De forma geral penso que as informações principais para uma leitura dinâmica sejam:
Jovens fora da Escola: Uma estatística preocupante revelada é que 1 em cada 5 jovens entre 18 e 24 anos não concluiu o ensino médio nem frequenta escola. Isso evidencia um desafio em manter os jovens na educação básica e direcioná-los para a educação superior. Ainda 43,4% dos meninos de 18 a 24 anos não estão na universidade, mas concluíram o ensino médio. Um mercado potencial que permite “dobrar a meta” do sistema do ensino superior pela viabilização do acesso.
Participação no Enem: Menos da metade dos estudantes que concluíram o ensino médio em 2022 fizeram o Enem, uma ferramenta crucial para o acesso ao ensino superior. Os números de inscrição, embora melhorando, ainda estão abaixo dos anos anteriores à pandemia.
Dificuldade de Preenchimento de Vagas: Pela primeira vez em anos o Censo resgata o conceito de VAGAS OCIOSAS. Nos últimos anos eu tive que gerar esse dado na unha. A superoferta de vagas de EAD é tão grande que havia deixado de fazer sentido falar daquelas não ocupadas (os números seguem abaixo). É excedente o número de vagas em universidades, tanto públicas quanto privadas, não estão sendo preenchidas. Mesmo cursos tradicionalmente populares, como medicina, não estão conseguindo ocupar todas as vagas. Nessa caso 5% das vagas já se encontram não ocupadas.
Crescimento da Educação à Distância (EAD) no Ensino Superior Privado: Em 2022, houve uma preferência significativa pela modalidade EAD, onde 72% dos alunos aprovados no ensino superior privado escolheram essa modalidade. Este índice se torna ainda mais impressionante ao observar os cursos de licenciatura, onde 93,2% optaram pelo EAD.
AGORA UM POUCO DE DADOS BRUTOS:
Proporção entre Públicas e Privadas: 88% das instituições de educação superior no Brasil são privadas, totalizando 2.283 IES privadas contra 312 públicas. Ao desmembrarmos as IES públicas, observamos que 42,6% são estaduais, 38,5% federais e 18,9% municipais. Entretanto, a maior parte das universidades, 56,1%, ainda é pública, enquanto nas IES privadas, o que predomina são as faculdades, chegando a 79,8%.
Cursos Oferecidos: Em 2022, havia uma oferta impressionante de 44.951 cursos de graduação e 9 cursos sequenciais. Um detalhe interessante é que somente 3,4% das IES oferecem mais de 100 cursos de graduação, enquanto a grande maioria, 27,8%, oferece até dois cursos. A modalidade presencial ainda é a preferida nas universidades, com 81,8% dos cursos seguindo esse modelo.
Perfil do Docente: Em nossas instituições, o mestrado é o grau de formação mais comum entre os professores. Além disso, a maioria dos docentes são homens, com idade média de 42 anos.
Perfil do Aluno: Em ambas as modalidades de ensino, presencial e a distância, o curso de bacharelado é o mais procurado pelos estudantes. O público feminino domina o ambiente acadêmico e o turno noturno é o mais concorrido.
VAGAS E INGRESSANTES EM 2022
Oferta de Vagas: Em um panorama geral, 2022 trouxe a oferta de mais de 22,8 milhões de vagas em cursos de graduação (vinte e dois milhões de seats). E aqui vemos a força das instituições privadas: 96,2% destas vagas foram ofertadas por elas!
Preenchimento de Vagas: Das novas vagas ofertadas, apenas 23,6% foram preenchidas, mostrando um desafio no preenchimento total. A modalidade a distância se destacou, com um crescimento de 25,2% em ingressantes comparado a 2021.
MATRÍCULAS
Crescimento Contínuo: Em 2022, tivemos quase 9,5 milhões de matrículas na educação superior. Entre 2012 e 2022, houve um aumento total de 33,8%. As instituições privadas dominam o cenário, respondendo por 78% do total de matrículas.
Ascensão: Mais de 4 milhões de estudantes optaram pela modalidade a distância em 2022, representando 45,9% do total de matrículas. Esta modalidade tem apresentado um crescimento exponencial, demonstrando a adaptação do setor educacional às demandas contemporâneas.
CONCLUINTES (o que interessa, afinal)
Em 2022, o cenário de estudantes concluintes do ensino superior no Brasil passou por algumas transformações significativas:
Ao todo, quase 1,3 milhão de estudantes finalizaram seus cursos de graduação. Esta marca é um indicador importante do compromisso continuado dos estudantes brasileiros com a formação superior.
Ao comparar 2021 e 2022, a rede pública apresentou crescimento de 8,9% em termos de concluintes. Por outro lado, a rede privada viu uma redução de -5,3%. Isto pode ser indicativo das transformações socioeconômicas que o país experimentou recentemente. E da nossa ineficiência na gestão da permanência desses alunos.
Em um panorama de uma década, entre 2012 e 2022, a rede privada registrou uma variação percentual de 29,0% no número de concluintes, enquanto a pública apresentou um modesto aumento de 0,5%.
De forma mais específica, 81,5% dos estudantes que finalizaram seus cursos em 2022 eram da rede privada, com os 18,5% restantes vindo da rede pública.
No que diz respeito à modalidade de ensino, ambas – presencial e a distância – viram uma diminuição em concluintes no último ano, com quedas de -4,6% e -0,3%, respectivamente. No entanto, desde 2016, a educação a distância tem visto uma inclinação positiva no número de concluintes, com uma participação crescente, passando de 19,7% para 37,6%.
Os cursos de bacharelado tiveram uma redução no número de concluintes desde 2019, enquanto os cursos tecnológicos experimentaram crescimento. Se olharmos para a última década, os cursos tecnológicos aumentaram 45,5%, seguidos dos bacharelados com 18,4%, e das licenciaturas com 15%.
DOCENTES
A qualidade e a capacidade do corpo docente são centrais para a excelência acadêmica, e em 2022, os números revelam algumas tendências interessantes:
O país tinha 362.116 docentes em atividade na educação superior. Em 2015, no pico da década eram 388.004.
Na rede privada o número cai de 222.282 no pico para 185.252 em 2022. Recontratamos. No ápice da pandemia o número chegou a 194.959.
A divisão entre as redes era quase igual, com 51,2% na rede privada e 48,8% na pública.
Somente a rede privada viu um crescimento no número de professores em todos os regimes de trabalho de 2021 para 2022. Na rede pública, o cenário foi misto com quedas e crescimento variados.
Quanto à formação, docentes com doutorado continuam em ascensão em ambas as redes, enquanto aqueles com até especialização estão decrescendo em número. Docentes com mestrado mantiveram sua participação praticamente estável.
A rede pública tem visto uma maior expansão de docentes doutores em números absolutos. Contudo, na rede privada, a proporção de doutores em relação ao total de docentes quase duplicou nos últimos dez anos.
Ao observar os regimes de trabalho, nas universidades, 74,2% dos docentes trabalham em tempo integral. A proporção de docentes em tempo integral é mais alta nos IFs e Cefets, com mais de 97%. Por outro lado, faculdades têm uma distribuição diversa, com 46,5% dos docentes trabalhando em tempo parcial.
No âmbito dos graus acadêmicos, os cursos de licenciatura têm a maior proporção de docentes em tempo integral, com 77,5%. Quase metade dos docentes de cursos tecnológicos trabalha em tempo integral, sendo este o menor percentual quando comparado a licenciaturas e bacharelados.
Em relação à formação, nos cursos a distância (EaD), embora tenham menos docentes doutores, eles têm uma maior proporção de mestres em comparação aos cursos presenciais.
Estes dados demonstram a complexidade e a diversidade da educação superior no Brasil, com muitos desafios e oportunidades pela frente. Continuar monitorando e interpretando estas tendências será fundamental para o avanço e a melhoria do setor nos próximos anos.
Finalizando…
Estes números são a prova do impacto e da importância das instituições privadas no panorama educacional brasileiro. Ainda há muitos desafios a serem enfrentados, especificamente na retenção de alunos. Mas a captação foi histórica e só temos motivos para comemorar. Segundo o Censo do Ensino Superior 2022 do MEC.
Não obstante, talvez por correlação ou causa, as ações das S/A se comportaram dessa maneira no dia da publicação do Censo: