Existe uma dicotomia, de certa forma divertida, quando pensamos em produto / serviço educação. Se por um lado, pela perspectiva do aluno/cliente uma escola é provedora de um serviço, por outro, afirmam alguns especialistas, pela perspectiva do mercado de trabalho é produtora de um insumo. Nessa perspectiva livre do mercado de trabalho, uma faculdade seria uma linha de produção de futuros profissionais (médicos, advogados ou professores, por exemplo), e seus futuros contratantes os consumidores desse “produto”.
Nessa perspectiva o serviço educação tem uma dupla responsabilidade. Discutir sobre suas características é portando duas vezes importante e uma atividade fundamental do marketing educacional.
Em 2001, há pouco mais de uma década, a Revista @prender, então editada pela Hoper Educação, trouxe como chamada de capa uma entrevista com o cientista Nicholas Negroponte criador e presidente de honra do Media Lab do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e da Revista Wired e porta voz das novas tecnologias . Negroponte possuía o mesmo status de Peter Drucker e Philip Kotler no rol dos gurus da gestão da segunda metade do século XX.
A pergunta de aquecimento, elaborada por esse articulista que aqui escreve, que deu início a uma torrente de questionamentos sobre educação, acabou sendo aquela cuja resposta mais repercutiu nos anos seguintes. Foi solicitado que o autor “em um exercício de futurologia projetasse aquelas que, em sua opinião, seriam as grandes revoluções tecnológicas de cada década, nos próximos 50 anos”.
Em 2001, uma década antes que os smartphone, tablets e notebooks cumprissem sua premonição, aquele que seria o criador da One Laptop per Child Association, anteviu que em 2010 viveríamos em um mundo hiperconectado por uma malha de banda larga wifi, onde hotspots estariam em nossos corpos nos ligando a internet em todos os lugares. Em 2010 seu prognóstico se mostrou correto.
Em 2015 estamos nos aproximando de seu segundo presságio, aquele do qual trata, na realidade, esse artigo. Em 20 anos (em 2020, portanto) teríamos segundo a projeção do cientista, “tradução simultânea em tempo real”.
De forma concreta teríamos um dispositivo (um headphone, talvez, ou um aplicativo) que traduziria interlocutores de qualquer naturalidade para qualquer idioma permitindo reuniões em língua nativa interpretadas em tempo real.
É fato que as melhorias e novas versões de sistemas como o Babilon e o Tradutor do Google, ano após ano traduzem com mais fidelidade textos em diversos dialetos. A essa nova geração de “interpretadores de texto” acompanhamos, recentemente, a evolução de uma segunda linha tecnológica, os dispositivos de reconhecimento de voz, e uma terceira, os aplicativos para smartphones.
Essa nova configuração nos leva, cada dia mais perto do pressentido há 13 anos. Programas como Jibbigo Tradutor, S Tradutor, Verbalizeit e Lexifone permitem que nos façamos entender em dezenas de idiomas e tendem a melhorar ainda mais no horizonte próximo levanto uma ameaça real e imediata as escolas de idiomas e cursos similares.
Ainda assim, o “horizonte próximo”, pode ser um futuro distante em um mundo dinâmico como o que vivemos. Entre a consolidação dessas novas tecnologias e sua popularização existe um prazo que pode ser inaceitável para a necessidade do aprendizado de uma segunda língua pelos universitários das Instituições de Educação Superior brasileiras. O fato é que em no universo on line, o português é uma ilha, um beco sem saída. Apenas 4% da internet é redigida em língua portuguesa, a pequena ponta de um enorme iceberg.
Segundo levantamento feito pelo British Council, apenas 5% da nossa população sabe falar inglês. Em um estudo comparativo, segundo pesquisa da escola EF Cursos no Exterior, o país tem um dos piores índices de proficiência em inglês do mundo. Um estudo do site Vagas.com feito com 37.389 candidatos em 12 estados mostrou que 51% informam ter inglês avançado ou fluente para escrita e leitura e que, após teste de proficiência, somente 36% podem ser considerados avançados ou fluentes.
E nem mesmo os funcionários de multinacionais se destacam quando o assunto é fluência na língua estrangeira. A GlobalEnglish, empresa especializada em fornecer soluções corporativas para o ensino de inglês, fez uma pesquisa com 108 mil empregados de multinacionais em 76 países. Os 13 mil brasileiros que responderam ao teste tiraram nota 2,95 (em um total de 10), deixando o país em 67º lugar no ranking.
Parte desse resultado deve-se a formação em Inglês dos universitários brasileiros. Os números nesse universo são ainda mais baixos. Nas questões do ENADE sobre “como é seu conhecimento de língua inglesa e espanhola”, apenas 11% dos estudantes afirmaram que “leem, escrevem e falam bem” inglês e 15% “leem, escrevem e falam bem” espanhol. Respectivamente possuem conhecimento da língua “praticamente nulo”, 32% em Inglês e 40% em Espanhol.
Conhecimento da Língua | Inglês | Espanhol |
Praticamente nulo | 32% | 40% |
Leio, escrevo e falo razoavelmente | 26% | 13% |
Leio, mas não escrevo nem falo | 21% | 24% |
Leio, escrevo e falo bem | 11% | 15% |
Leio e escrevo, mas não falo | 9% | 7% |
Sem Informação | 1% | 2% |
Não dominar uma segunda língua impossibilita que nossos alunos pesquisem em um universo mais amplo na internet limitando seus resultados e fontes. Se dominassem o Espanhol os estudantes teriam acesso a 2x mais conteúdos. Se dominassem o inglês, teriam acesso a até 7x mais informações.
Outra questão relevante nesse tema é a globalização do ensino. As principais plataformas de MOOCs (Massive On Line Open Courses) são em inglês, assim como os módulos para estrangeiros nas principais universidades do mundo. Sem uma segunda língua os alunos ficam de fora do potencial enriquecedor do intercâmbio e da ampla gama de cursos on line gratuitos que se propagam na rede.
Algumas soluções devem ser implantadas no curto prazo pelas IES. A promoção junto ao seu alunado de objetos e plataformas de aprendizagem de idiomas gratuitas é premente nesse sentido. O Duolingo e o LiveMocha são duas opções livres que precisam ser compartilhadas para os estudantes. Outras como o Babbel e o Voxy têm custos muito baixos frente à qualidade de ensino que entregam e ainda mais baixos quando comparados com soluções presenciais de ensino de idiomas. O fato é que os estudantes já conseguem desfrutar de algum nível de automação na tradução de conteúdos. Mas no curto prazo, até que dispositivos de tradução simultânea surjam no mercado, o domínio de um segundo idioma será importante não apenas para a carreira profissional de nossos alunos, mas para que sua jornada acadêmica seja mais rica e proveitosa.