Os anos 80 são conhecidos como a década perdida na história contemporânea do Brasil. Se a alcunha é exagerada para determinadas dimensões sócio econômicas de nosso país ela cabe muito bem a história do Ensino Superior. Em 1980 existiam 882 instituições nacionais, 682 (77%) das quais privadas. Durante os anos 80 esse nível de ensino foi minguando ano a ano, até que em 1986 esse número caiu para 855 IES, das quais 613 (69%) privadas. Esse ano marcou a menor participação do setor privado no mercado do ensino superior nos últimos 36 anos. Em 2008, na outra extremidade dessa estatística, 90% das IES não eram mantidas pelo governo. Os anos seguintes foram marcados pela consolidação do setor que levou a uma queda no número de instituições (principalmente depois de 2012, muitas adquiridas pelos maiores grupos educacionais do país).
Ainda que a participação de alunos na rede privada tenha aumentado nos dois anos seguintes a 2012 o setor encolheu 42 IES privadas.
Número de Instituições de Ensino Públicas e Privadas no Brasil desde 1980
Se em 1980 o segmento privado concentrava 64% das matriculas (nos cursos presenciais), em 1986 esse número foi para seu nível mais baixo, 59%, crescendo até a concentração máxima de 77% em 2008.
Em 1980 estudavam nos cursos superiores presenciais brasileiros 1.3 milhões de universitários. Em 2014 eram 6.4 milhões. A esses acrescidos mais 1.3 milhões nos cursos a distância. Uma evolução discente de 468% em pouco mais de 3 décadas.
O crescimento do número de instituições de ensino puxou o crescimento de cursos. Em 1984, primeira série histórica, existiam no Brasil 421 cursos superiores ofertados por empresas (11% de um mercado de 3806 ofertas, na época). Em 2014 eram 20.904 (66% dos 31.513 da modalidade presencial).
Em paralelo, em todo o nosso país, chegamos a 4912 polos levaram ao mercado 1365 cursos superiores a distância há dois anos (últimos dados oficiais do Censo do Ensino Superior do INEP).
O aumento do número de cursos superiores foi proporcionalmente maior que o de alunos. Enquanto em 1984 cada curso superior presencial possuía em média 1966 alunos em 2010 esse número caiu para 202 alunos.
Relação de Alunos por Curso Superior Presencial
Nos
anos seguintes com a redução do número de IES em função da consolidação do
mercado – e de algumas interferências do Ministério da Educação com algun
descredenciamentos – o número de cursos superiores presenciais também caiu.
Pela primeira vez em 36 anos, entre 2013 e 2014, houve uma redução de 295
cursos presenciais no Brasil. Essa queda na oferta puxou a relação de
“ensalamento” um pouco para cima e uma correção de rota: em 2014 já eram 223
alunos por sala de aula. Um aumento de 10% em quatro anos.
Número de Cursos Superiores Presenciais no Brasil
Os anos 90
Se os anos 80 foram a década perdida a primeira metade dos anos 90 não mudaram em nada esse ambiente de negócios. Nos 15 anos entre 1980 e 1995 o número de IES privadas aumentou em duas. Passou de 682 para 684.
O Título II, “Dos Princípios e Fins da Educação Nacional” da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, previa no seu Art 3º que o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios (…) V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino. O ministro da educação era Paulo Renato de Souza e estava aberta a era do atendimento a demanda represada por Ensino Superior e o fim da geração de ouro dos cursos Pré-Vestibulares.
Em 1987 concorriam – de forma geral – a cada vaga desse nível de ensino 5 alunos. Vinte anos mais tarde, e no ápice da queda nessa equação, seriam 1,8 candidatos por vaga (quase 1/3 de duas décadas antes).
Nas instituições privadas essa média nunca caiu para uma relação negativa. Mas em 2007 esse número havia chegado no seu menor denominador desde 1996, muito em função na equalização entre a oferta e a demanda, mas, ainda, uma média estatística. Se alguns cursos da área da saúde possuíam relações candidatos / vaga acima de 100, em outros cursos e instituições de ensino essa relação já era há algum tempo negativa. Uma mediana aparentemente positiva.
Surgia a concorrência em um mercado habituado a uma procura maior do que seu estoque e orientado, portanto, para a produção de novos cursos e vagas. Se nos 10 anos que antecederam 2007 o crescimento de cursos foi de 306%, nos 6 anos que precederam 2007, o crescimento perdeu muito de sua tração: 22%. Uma pequena parte dessa desaceleração deu-se em função do EAD que surgia (957 cursos apareceram no período). Um percentual muito maior veio do posicionamento bastante assemelhado das instituições. Da comoditização do serviço.
A principal evidência de uma mudança na estratégia de marketing veio do incremento do investimento publicitário. O segmento trocava os P’s de “Pontos de Vendas” e “Produto” pelos de “Promoção” e “Preço”. O incremento em investimento publicitário surge como principal resposta a queda da relação candidatos/vaga.
As cifras tornam a categoria uma das principais anunciantes da economia brasileira. Antes de 2000 o segmento sequer figurava entre os 30 monitorados pelo IBOPE. Em 15 anos, nos anos subsequentes, o investimento aumenta 7x passando para 2.5 bilhões de reais em 2015. Ao mesmo tempo o valor das mensalidades cai até 18% entre 2000 e 2006 e continua caindo até 2010 somando uma década de redução de valores.
Enquanto o IGP-M acumulado nos anos 2000 elevou-se 98,92%, as mensalidades médias das instituições de ensino superior privadas caíram 32% na década passando de R$794,00 para R$575,00 no período.
Em 2010 um deus ex machina causaria um grande impacto nos números do setor. O Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) passaria a ser a principal estratégia de marketing durante os anos subsequentes.
Entre 2010 e 2014 o crescimento de novos contratos foi de 327% e no período quase 2.000.000 de universitários passaram a estudar em cursos de graduação presenciais em instituições privadas de ensino superior. Nos anos entre 2011 e 2013 o crescimento de ingressantes anabolizado pelo dinheiro público foi de 45% e depois de dez anos de retração nos preços em 4 anos as mensalidades recuperam 12% de seu valor.
A queda no FIES em 2015 levou o número de novos contratos naquele ano para o mesmo patamar do início da década e fez soar o alarme nas IES levando os gestores de marketing a buscar a profissionalização de suas operações e a perseguirem novamente o retorno sobre o seu investimento em comunicação, uma vez que as campanhas voltaram ao protagonismo da captação de alunos.
O cenário futuro não é promissor para o Ensino Superior, especificamente para os cursos de graduação presenciais (que em 2014 representavam 96% dos cursos e concentravam 83% das matriculas entre IES públicas e privadas no país).
A concorrência e o hiato de dinheiro público nas contas privadas tendem a dragar o valor das mensalidades para uma nova onda de retração por um lado e o custo de captação de alunos tende a aumentar.
A
busca por desempenho dará o tom do mercado no futuro próximo e as instituições
que conseguirem melhores custos por inscrição, e melhores taxas de conversão de
inscritos em ingressantes sairão melhor no novo ambiente competitivo do setor.