Na semana passada, a Folha de São Paulo trouxe uma reportagem que chamou atenção, intitulada “Brasileiro mais escolarizado vê renda desabar e cai na informalidade”. Ao mergulhar nas entrelinhas do texto, percebo que esse tipo de abordagem pode enganar e ser prejudicial ao nosso entendimento da realidade educacional e econômica do Brasil.
A reportagem, repleta de adjetivos e presunções, foca essencialmente na queda da renda entre os mais escolarizados. O excesso de adjetivos usados no texto me incomoda, pois cria uma narrativa que não reflete necessariamente a complexidade das mudanças em curso em nossa sociedade.
Então, como sempre, eu fui atrás do estudo que fundamentou as elaborações dos jornalistas em busca de mais pistas para tentar entender esse fenômeno com mais dados.
É esse tipo de armadilha que tem levado muitos estudantes a buscar soluções alternativas, como coachs on line, métodos infalíveis, soft skills, bit coins, boot camps, betts, fórmulas de lançamento, micro empreendedorismo, como sistemas e segredos mágicos que substituiríam a educação formal. Não menosprezando todas essas atividades, mas é crucial lembrar que a educação desempenha um papel fundamental na transformação de nossa sociedade e população. Adaptando livremente Curchill o ensino superior é o pior modelos com excessão de todos os outros.
O Movimento Anti-Faculdade que tem ganhado força no país é um caminho perigoso em uma nação que já enfrenta desafios profundos. Precisamos entender nossa posição em relação à qualificação da população economicamente ativa em comparação com o resto do mundo.
Com apenas 23% da população entre 25 e 34 anos com graduação, estamos no terceiro pior lugar em um indicador fundamental quando comparados a outros países da OCDE. Isso significa que estamos abaixo da média e quatro vezes atrás das economias líderes nesse ranking.
Então vamos pactuar uma questão: houve uma tremenda queda na renda dos profissionais com ensino superior? Sim! Esse é o principal problema para o qual deveríamos olhar. Não sei.
A QUEDA
Em números, quando comparamos os trabalhadores com pelo menos 16 anos de estudo – equivalente, em termos educacionais, ao ensino superior ou superior completo – com aqueles que tiveram menos de um ano de educação formal, observamos uma redução acentuada no prêmio de educação. Em 2012, esse prêmio era de 641%, mas no segundo trimestre de 2023, havia caído para 353%. Uma queda de 288 pontos ou 45%. No caso daqueles com 12 a 15 anos de estudo, equivalente ao ensino médio completo ou superior incompleto, a queda foi de 193% em 2012 para 102% em 2023.
Uma queda de 91 pontos ou 47%. Então a queda foi maior na contramão do alarmismo da reportagem para aqueles que proporcionalmente teriam o Ensino Médio Completo. Ainda entre 9 e 11 anos de estudo? 47%! Entre 1 e 4 anos? 77%!
Ainda assim quando olhamos para o salário hora o prêmio por ano de estudo é brutal.
São 448 pontos de diferença entre trabalhadores com Ensino Superior e Médio. Coisa de 232%. Entre as mulheres um pouco mais… 249%.
Mas qual a razão dessa queda? Eu vejo uma tempestade perfeita. Além dos argumentos macroeconômicos apontados pela FGV eu acrescento uma razão a mais: quantidade de novos profissionais titulados no período.
O ensino superior de maneira geral formou desde 2015 6.452.989 profissionais no Ensino Superior Presencial e 2.192.671 no EAD totalizando 8.645.660. Uma população do tamanho da Suíça de diplomados*.
Me parece relativamente logico que exista uma diluição dos salários uma vez que o crescimento da demanda por vagas de emprego aumenta numa proporção maior que a quantidade de vagas de emprego ofertadas.
Faço coro aos autores do artigo da FGV: “O ensino superior está dando menos retorno no Brasil; uma novidade muito ruim. É um claro indicador de uma economia pouco dinâmica, com empresas pouco ativas, e com outras mais produtivas que não crescem”.
O problema está muito mais na qualidade e na baixa oferta de vagas que na quantidade de formados nas faculdades brasileiras. Um problema muito mais da Avenida Avenida Faria Lima do que da Rua Vergueiro.
E COMO SE DEU O CRESCIMENTO DO ACESSO AO ENSINO SUPERIOR NO PERÍODO?
Esse gráfico dá o título ao artigo e a perspectiva de onde nos encontramos no debate do ao Ensino Superior.
Quando olhamos nossos últimos 16 anos lá no fundo do poço saímos de terceiro pior país para o quarto com a chegada da Argentina no subterrâneo da população com 25-34 anos com ensino superior. Um lugar medíocre, no fim da fila, que deveria provocar uma discução muito mais sobre o acesso que quaisquer outros temas menores a luz dessa tragédia.
Luiz Fernando Veríssimo ja disse que “no Brasil o fundo do poço é apenas uma etapa”.
Espero que nesse tema ele esteja enganado e que nós olhemos para o ceú, agora ,e voltemos a discutir “como colocar 10 milhões de brasileiros no ensino superior”.
*Deveriam ser quase 2x mais se tivéssemos cumprido a meta do Plano Nacional de Educação de elevar a taxa bruta de matrícula na Educação Superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos.