Eu já escrevi que sinto uma certa ingenuidade nas discussões atuais sobre a educação superior.
Que gastamos muito mais energia falando das dinâmicas da sala de aula (QUE PRECISAM DE UMA REINVENÇÃO e falaremos disso mais a frente) do que discutindo aquele que considero o primeiro grande problema do nosso negócio o ACESSO.
Alguns números para a gente ter na cabeça quando pensamos em Ensino Superior.
Em 2022, no retrato daquele momento, o Censo da Educação Básica trazia as seguintes populações:
Estudavam no Ensino Médio 7.86M de jovens.
E eles estavam divididos da seguinte maneira:
1º Ano – 2.9M
2º Ano – 2.58M
3º Ano – 2.27.
Se não houver perda de alunos nos próximos 24 meses poderíamos prever um crescimento de quase 30% na base de concluintes do Ensino Médio (a diferença dos alunos de 1º e 3º ano) mas sabemos que isso não é uma realidade e que a evasão é um problema latente desse nível de ensino.
AINDA ASSIM, MESMO APLICANDO A ELEVADA TAXA DE ABANDONO DE 2021 (5,6%) O CENÁRIO MANTÉM-SE PROMISSOR.
Um segmento como o Ensino Superior deveria ter o maior interesse em aumentar sua base de clientes potenciais sendo parte da solução da evasão do Ensino Médio. De maneira institucional. E não fazemos isso.
A esse número ainda (essa demanda orgânica que todos os anos se forma no ensino médio), para efeito de uma projeção sensata, é sempre bom adicionarmos o ENORME ESTOQUE de profissionais sem educação superior que atuam no mercado de trabalho.
Entre 2012 e 2018 a proporção de trabalhadores com ensino superior completo avançou de 13,7% para 18,5%( em termos absolutos avançou 48,2%, passando de 13,1 para 19,4 milhões). São, portanto, 82,7 milhões de profissionais da população economicamente ativa “sem ensino superior completo”.
Mas não é sobre eles que eu gostaria de tratar aqui e sim sobre o Ensino Médio.
Aceitamos essa perda ano após ano criando gerações de brasileiros sem graduação (pior, sem Ensino Médio completo, sequer) e atribuímos o problema a questões meramente funcionais da sala de aula sem olhar de fato as grandes questões de renda familiar, desemprego, falta de financiamento e recentemente pandemia.
Pior. Olhamos somente a população de 18-24 anos. E nesse coorte 17% encontrava-se nas salas de aula das universidades brasileiras frente a 40% nos Estados Unidos.
Ainda que essa seja uma informação importante outras também seriam como a Taxa Imediata de Matricula no Ensino Superior de Concluintes do Ensino Médio (immediate college enrollment rate of high school completers) que nos EUA foi de 63% em 2020.
Um número relativamente estável nos últimos 10 anos. Esse tracking dos alunos é um marcador acompanhado em todo o mundo que ignoramos no Brasil.
Aqueles que não se “matriculam imediatamente no ensino superior ao concluir o ensino médio” são chamados na Europa de early leavers e naquele bloco, em 2021, 9,7 % dos jovens entre os 18 e os 24 anos não seguiram adiante com o ensino ou formação complementar ao concluir o ensino secundário.
E nós no Brasil vivemos um apagão acerca da taxa desse abandono imediato do pós médio.
Um outro dado muito mais relevante que a população de 18 a 24 anos matriculada no Ensino Superior é a população de 30 a 34 anos que COMPLETOU a graduação e que em 2019, na Europa, chegou a 40% (45% entre as mulheres).
E isso nos leva ao o SEGUNDO grande problema do nosso negócio o CONCLUSÃO.
Eu prefiro esse dado sobre todos os demais por ele trazer aquele que eu considero nosso grande objetivo: formar alunos.
Enquanto o dado de população de 18 a 24 anos aponta o meio, esse dado aponta o final do processo e a taxa de sucesso do segmento.
E novamente essa é uma informação que desprezamos por aqui. Quer entender isso na prática?
O NUMERO DE CONCLUINTES DE CURSOS SUPERIORES PRESENCIAIS EM 2020 FOI O MENOR DESDE 2014 E NÃO OUVIMOS UM ALARDE A ALTURA EM NENHUM LUGAR.
Se observarmos o numero de concluintes se mantem relativamente estável no Brasil há muito tempo.
Em 2009 formaram-se nos cursos presenciais e a distância (de IES publicas e privadas) 967.558 pessoas. Em 2020 formaram-se 1.278.755 (um crescimento de apenas 32% em 12 anos ou 2,6% ao ano).
Nosso negócio, é sempre bom lembrar NÃO É CAPTAR ALUNOS.
Nosso negócio é FORMAR PROFISSIONAIS.
Uma operação que tem um bounce rate tão elevado como a nossa precisa de uma recalibragem.
E aí sim quando falamos de permanência e sucesso do cliente discutir metodologia e conteúdo torna-se relevante.