Dados obsoletos podem distorcer previsões acuradas.
Reflexões e dados sobre a queda nos ingressantes da Educação Superior
O atraso de um ano da publicação dos dados do Censo do Ensino Superior pode criar distorções e impressões equivocadas por parte daqueles que dependem exclusivamente dessa fonte de dados para seu processo de tomada de decisão. Ao gerir com base na análise retroativa de informações o executivo assume o risco de não computar o presente ou projeções para o futuro, projeções essas a cada ano mais precisas. A recente publicação dos números de 2013 aumentou a sensação de insegurança dos gestores do segmento frente a uma queda no número de ingressos da graduação. Estatisticamente irrelevante (foram 6900 alunos a menos entre os anos de 2012 e 2013 na base de ingressantes na educação superior, computando graduação e sequencial[1]), o indicativo disparou alertas em mantenedoras de todo o país e protagonizou os principais fóruns do segmento.
De fato em um ambiente onde o crescimento médio foi de 5% (média aritmética calculada pela diferença positiva ou negativa dos ingressantes na educação superior, computando graduação e sequencial de um ano em relação ao ano subsequente no período de dez anos entre 2003 e 2013), o crescimento negativo de 0,25% entre 2012 e 2013[2] assusta quando observado fora de contexto. No entanto, para quem analisa as curvas históricas e as suas correlações esse número preocupa menos que outros como a queda de alunos matriculados nos últimos anos do Ensino Médio, conforme demonstraremos abaixo.
A média de 5% de crescimento de ingressantes/ano da última década na Educação Superior foi pouco linear com altos e baixos. Entre os anos de 2012 e 2011 tivemos um crescimento de 14,41% e entre 2008 e 2009 um crescimento negativo de -13,39%[3]. Ao observarmos o passado desse ambiente de negócios nos acostumamos com algumas turbulências.
Esse, no entanto, não é o único, ou principal indicador para mensuração dos resultados do sistema cujo desempenho deve ser avaliado de maneira mais ampla.
O número de alunos ingressos é claramente um fator crítico
para o sucesso de longo prazo. Contudo a principal unidade de mensuração da educação
superior no Brasil está no número total de matriculas. E esse número cresceu 4%
(ainda que abaixo da média histórica da última década de 6% ao ano)[4] conforme
a tabela abaixo descreve:
Ano | Taxa de Crescimento no Número de Ingressantes | Taxa de Crescimento no Número de Matriculados |
2004 | 5,39% | 7,24% |
2005 | 9,12% | 8,15% |
2006 | 7,35% | 6,88% |
2007 | 7,71% | 7,23% |
2008 | 8,26% | 10,20% |
2009 | -13,39% | 2,44% |
2010 | 5,25% | 7,05% |
2011 | 6,89% | 5,58% |
2012 | 14,41% | 4,32% |
2013 | -0,25% | 3,75% |
Fonte: Censo da Educação Superior do INEP
Essa deveria ser em uma análise de ambiente endógeno a principal preocupação dos gestores educacionais: o número total de alunos matriculados e não apenas o número total de ingressantes. O faturamento global de suas operações e não somente o faturamento projetado de novas matrículas. Uma mudança de paradigma para muitos executivos preocupados mais com a captação cíclica de novos alunos do que a manutenção, satisfação, retenção e reposição de alunos/clientes perdidos. Basta comparar o montante investido em campanhas de Transferências e o montante investido em campanhas de Captação, para notar que o esforço de marketing é maior nas vendas para alunos de 1º ano. Muitas vezes o número de vagas ociosas em turmas de 2º, 3º e 4º anos equivale ao número de vagas ofertadas em processos seletivos de vestibular.
Ao deixar de olhar para o retrovisor, os dados retroativos, o gestor talvez possa mitigar a ansiedade dos números observando alguns indicadores em seu para-brisa.
O número de novos contratos de FIES vem crescendo todos os anos.
Esses contratos não figuraram nos
indicadores publicados na última Edição do Censo do Ensino Superior. Os dados
registrados no final de 2013 apontam os ingressantes daquele ano, relacionados,
majoritariamente, aos contratos do FIES de 2010, 2011 e 2012, como demonstrado
na tabela abaixo:
Novos Contratos de FIES | Taxa de Crescimento | Inscritos no ENEM | Taxa de Crescimento | |
2003 | – | – | 1.900.000 | – |
2004 | – | – | 1.600.000 | -15,79% |
2005 | – | – | 3.000.000 | 87,50% |
2006 | – | – | 3.700.000 | 23,33% |
2007 | – | – | 3.600.000 | -2,70% |
2008 | – | – | 4.000.000 | 11,11% |
2009 | – | – | 4.100.000 | 2,50% |
2010 | 76.000 | – | 4.600.000 | 12,20% |
2011 | 154.000 | 102,63% | 5.400.000 | 17,39% |
2012 | 377.000 | 144,81% | 5.800.000 | 7,41% |
2013 | 556.000 | 47,48% | 7.200.000 | 24,14% |
2014* | 731.300 | 32% | 8.700.000 | 20,83% |
*Fonte IG. |
Fonte: INEP e dados publicados pela imprensa
O número de estudantes inscritos no ENEM cresce positivamente uma média de 17% durante os últimos 11 anos, como pode ser visto na tabela acima. Isso é bom, e do batalhão de inscritos em 2014 um contingente de mais de 6,7 milhões estará em condições de ingressar na Educação Superior no final do ano. Entre os demais, os chamados “treineiros” e outros, mostram interesse e poderão se inscrever nos anos seguintes[5].
Situação | Inscrições em 2014 |
Concluiu o Ensino Médio | 4.990.025 |
Concluirá em 2014 | 1.748.588 |
Concluirá após 2014 | 1.446.032 |
Não Concluiu e não está cursando o Ensino Médio | 537.301 |
Total | 8.721.946 |
Fonte: Balanço das Inscrições do ENEM publicado pelo INEP
Algumas lacunas, contudo, aparecem na estrada que desponta no para-brisa do gestor educacional. O número de alunos matriculados no Ensino Médio Regular vem caindo de modo linear todos os anos na última década. Por questões demográficas e sociais a taxa de crescimento negativo é espelhado nos últimos anos desse nível de ensino. No âmbito global o ensino médio perdeu -14,12% (mais de 1,2 milhões de estudantes) entre 2003 e 2013 e -6,69% (mais de 160 mil estudantes no último ano do curso).[6]
Ano | Ensino Médio Regular – Total | Taxa de Crescimento | Total nos Últimos Anos (3º e 4º Anos) | Taxa de Crescimento |
2003 | 9.072.942 | 2.277.608 | ||
2004 | 9.169.357 | 1,06% | 2.435.648 | 6,94% |
2005 | 9.031.302 | -1,51% | 2.482.242 | 1,91% |
2006 | 8.906.820 | -1,38% | 2.441.833 | -1,63% |
2007 | 8.369.369 | -6,03% | 2.260.693 | -7,42% |
2008 | 8.037.039 | -3,97% | 2.180.727 | -3,54% |
2009 | 7.966.794 | -0,87% | 2.149.677 | -1,42% |
2010 | 7.959.478 | -0,09% | 2.123.778 | -1,20% |
2011 | 7.978.224 | 0,24% | 2.129.144 | 0,25% |
2012 | 7.944.741 | -0,42% | 2.137.207 | 0,38% |
2013 | 7.854.207 | -1,14% | 2.116.757 | -0,96% |
Fonte: Censo da Educação Básica do INEP
Algumas outras oportunidades não
devem ser perdidas. Apenas 11,27% dos 110 milhões de brasileiros com 25 anos ou
mais de idade possuem ensino superior e 24,56% possuem ensino médio completo e
superior incompleto[7].
Um mercado de 27 milhões de potenciais universitários. Em um recorte
conservador, são 81 milhões de pessoas entre 25 e 64 anos (ainda no mercado de
trabalho). Um mercado de 23 milhões de profissionais aptos a ingressar na
educação superior no próximo ano e muitas vezes fora do radar do planejamento
estratégico da maior parte das mantenedoras brasileiras[8].
[1] Calculo com base nos dados dos Ingressantes do Censo da Educação Superior 2012 e 2013.
[2] Calculo com base nos dados dos Ingressantes do Censo da Educação Superior 2012 e 2013.
[3] Calculo com base nos dados dos Ingressantes do Censo da Educação Superior 2008, 09, 10, 11, 12.
[4] Calculo com base nos dados dos Matriculados do Censo da Educação Superior 2002 a 2013.
[5] Dados do Balanço das Inscrições do ENEM publicado pelo INEP http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2014/balanco_inscricoes_enem_2014.pdf
[6] Dados do Censo da Educação Básica do INEP
[7] Cálculo realizado com base na publicação da analise do IBGE presentes em http://educacao.uol.com.br/noticias/2012/12/19/ibge-quase-metade-da-populacao-com-25-anos-ou-mais-nao-tem-o-fundamental-completo.htm
[8] Calculos com base nos dados do Censo 2010 http://censo2010.ibge.gov.br/sinopse/webservice/frm_piramide.php